Jel é humorista, músico e também quer ser político. A candidatura dos Homens da Luta à Câmara de Lisboa é para valer. Entretanto, mudou-se da SIC Radical para a Internet. Junho promete novidades...
Chama-se Nuno Duarte, tem 34 anos e é licenciado em História. Soa familiar? Não, claro que não. E se o apresentarmos como Jel, humorista e mentor de projectos musicais corrosivos, como Kalashnikov (a "banda da guerra") ou "Homens da Luta" (saudosos do PREC)? Aquele que foi, até muito recentemente, um rosto da SIC Radical abraça agora novo desafio: trabalhar, em exclusivo, para a Internet. E ela, afinal, pode ser amiga dos artistas. Nesta conversa, fala-se das mudanças no meio audiovisual, de rock'n'roll, de política. A propósito: a candidatura à Câmara de Lisboa continua de pé.
Em criança, o que é queria ser? Estrela de rock?
Sim, é verdade.
Disse a uma revista que a comédia era o novo rock'n'roll.
Sem dúvida! A comédia é a forma artística que está a chegar mais às pessoas, é aquilo a que prestam atenção e dão valor. A música perdeu um pouco isso. Hoje, é quase só entretenimento. Não é como nos anos 60 e 70, em que os grandes artistas eram focos de rebeldia, faróis de liberdade.
Essa função de agitar as águas foi transferida para a comédia?
Tento fazê-lo também na música. Eu e o meu irmão [Vasco] somos músicos e vamos fazendo espectáculos onde pomos comédia, mas também rebeldia e rock'n'roll à antiga. Fizémos isso nos Kalashnikov e estamos a fazê-lo, agora, com os Homens da Luta ["Neto" (Jel) e "Falâncio" (Vasco)].
Os Kalashnikov ainda existem?
Nunca terminam. Kalashnikov é um conceito, como o McDonald's. Enquanto houver capitalismo, vai haver McDonald's. E enquanto houver guerra, vai haver Kalashnikov.
Os Homens da Luta venceram o Festival da Canção Alternativo. Como é que alimenta bandas tão diferentes?
Os Kalashnikov são uma banda irónica. Achei que a forma mais eficiente de passar a mensagem contra a guerra era formar a banda da guerra. O nosso público entendeu a ironia, gravámos um disco, demos quarenta e tal concertos, foi muito bom. Só que chegou a altura de fazer outra coisa: a banda dos Homens da Luta. Enquanto Kalashnikov é rock'n'roll adolescente, puro e duro, os Homens da Luta vão beber [influências] ao Zeca Afonso, ao Fausto... à música tradicional portuguesa.
São referências vossas?
Completamente. O meu artista favorito, de sempre, é o Zeca Afonso. E também José Mário Branco, Fausto, Chico Buarque, Gilberto Gil... Da altura em que a música era uma arma. Na comédia já falamos de praticamente tudo, desde a droga, à guerra, ao sexo. Temos de nos reinventar. O espectáculo dos Homens da Luta é isso, tentar crescer um pouco. Dizer aquilo que achamos que tem de ser dito.
Qual é a crítica implícita, nos Homens da Luta?
Embora o discurso seja contra o Governo, contra os patrões, contra aqueles que mais têm, a maior crítica é ao povo. Porque anda calado. E o povo calado será sempre enganado. Essa ideia está na letra do primeiro single: "E o povo, pá? Quer dinheiro para comprar um carro novo!". O que as pessoas querem agora, basicamente, é material. E isso lixa-as. Porque largaram a sua veia política, de participação, de contestação. Nos últimos anos, fizemos muitas manifestações e fechos de fábricas com os Homens da Luta. E é uma minoria. Não pode ser! Mensagem de alerta: está na altura de acordar e ir para a rua!
Há uns tempos, anunciou a candidatura à Câmara de Lisboa. Mantém?
Estamos [Homens da Luta] a recolher as assinaturas. Temos quase metade [são precisas 4000]. Mas ainda temos tempo. A campanha está preparada para arrancar. Este Verão, vamos entrar na altura da campanha, que é demagogia ao mais alto nível. Por exemplo, em Lisboa, está tudo em obras. Chega esta altura e eles fazem tudo. Mas a gente, este ano, vai lá estar, para chateá-los. A gente vai estar na rua e correr com eles. E vai ser quentinho, à moda antiga!
Qual seria a primeira medida, caso vencessem as eleições?
A reforma agrária. E a segunda medida, prender os políticos. Todos os que são corruptos. Se for preciso, metemo-los no Campo Pequeno e acabamos com eles, tipo Guerra Civil Espanhola.A nossa candidatura é de saudosismo do PREC, a altura pura da luta.
Sei que está interessado em cingir os seus projectos à Internet, por agora.
O "Vai Tudo Abaixo" vai para a Internet, para um operador.
Qual?
Não posso dizer ainda. A estreia é em Junho. Até ao fim do ano, vai haver todos os dias um "sketch" novo do "Vai Tudo Abaixo".
Será o operador a sustentar-vos?
"Sustentar" não é o verbo correcto, porque quem nos sustenta é o público. As coisas estão a mudar muito, no meio audiovisual. As televisões estão a passar uma crise grande, sobretudo porque há cada vez menos gente a ver. A Internet é o meio, por excelência, onde se vai ver o que se quer.
A opção pela Internet deveu-se a esse facto, de estar tudo em mudança, ou foi quase forçada?
Não foi forçada. Actualmente, a Internet é mais rentável para nós. Findo o ciclo na SIC Radical, apareceu-nos esta hipótese. Alegra-me muito e estou excitado. No futuro, vejo os artistas - sobretudo os que fazem conteúdos audiovisuais - a ter na Internet uma grande aliada, mais do que uma inimiga, como muitos querem fazer crer. Este operador tem muitos artistas a trabalhar para ele. Vê-se que é uma boa saída, para o artista, trabalhar para a Internet, em vez de trabalhar na televisão. Era uma coisa impensável, há uns anos! Esta revolução tecnológica que se está a dar é muito boa
25/05/2009
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